quinta-feira, 30 de junho de 2011

Teólogos europeus são condecorados com o Prêmio Ratzinger

Três teólogos europeus foram condecorados hoje (30 de junho),  com o “Prêmio Ratzinger”: o padre espanhol Olegario González de Cardedal (docente de Teologia Sistemática), o leigo italiano Manlio Simonetti (estudioso da antiga literatura cristã e Patrologia) e o alemão Maximilian Heim (abade do Mosteiro cisterciense de Heiligenkreuz, na Áustria).

O prêmio, que está em sua 1ª edição, foi instituído pela Fundação Vaticana Joseph Ratzinger - Bento XVI, e foi entregue na Sala Clementina, no Vaticano, pelo próprio papa.

Em coletiva de imprensa realizada no dia 14 de junho passado, o cardeal Camillo Ruini, presidente do Comitê Científico da Fundação, explicou que os premiados foram escolhidos “com base em critérios de excelência e prestígio”. Neste sentido, o vigário emérito admitiu a intenção de que o prêmio seja reconhecido como o equivalente ao “Nobel” de Teologia.

O objetivo desta Fundação é incentivar o estudo desta matéria, já que a contribuição deste ramo para o desenvolvimento científico é uma das principais preocupações de Bento XVI. De acordo com uma nota, “as atividades da instituição visam ajudar a verdade, sentido e beleza do cristianismo em relação à cultura e sociedade de hoje”.

Ainda na coletiva, o reitor da Livre Universidade Maria Assunta, professor Dalla Torre afirmou que pretende também contribuir para que o estudo da Teologia tenha um maior reconhecimento acadêmico.
 

domingo, 26 de junho de 2011

Pandora e Stradivarius

Conta o mito grego que Epimeteu ganhou dos deuses uma caixa que continha todos os males. Advertiu a mulher, Pandora, que de modo algum a abrisse. Mordida pela curiosidade, ela desobedeceu e os males escaparam.

Hoje, uma das caixas de Pandora mais ameaçadoras são as usinas nucleares – 441 em todo o mundo. Por mais que os Epimeteu das ciências e dos governos apregoem serem seguras, os fatos demonstram o contrário. As mãos de Pandora continuam a provocar vazamentos.

O vazamento da usina nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, afetou milhares de pessoas, sobretudo crianças, e promoveu séria devastação ambiental. Calcula-se que Chernobyl provocou a morte de 50 mil pessoas.

Agora temos o caso da usina japonesa de Fukushima, atingida pelo tsunami. Ainda é cedo para avaliar a contaminação humana e ambiental provocada por vazamento de suas substâncias radioativas, mas o próprio governo japonês admite a gravidade. Se o Japão, que se gaba de possuir tecnologia de última geração, não foi capaz de evitar a catástrofe, o que pensar dos demais países que brincam de fogo atômico?

No Brasil, temos as três usinas de Angra dos Reis (RJ), construídas em lugar de fácil erosão por excesso de chuva, como o comprovam os desmoronamentos ocorridos na região a 1º de janeiro de 2010.

Ora, não há risco zero em nenhum tipo de usina nuclear. Todas são vulneráveis. Portanto, a decisão de construí-las e mantê-las é de natureza ética. Acidentes naturais e falhas técnicas e humanas podem ocorrer a qualquer momento, como já aconteceu nos EUA, na União Soviética e no Japão.

Em 1979, derreteu o reator da usina de Three Mile Island, nos EUA. Em Chernobyl, o reator explodiu. Em Fukushima, a água abriu fissuras. Portanto, não há sistema de segurança absoluta para essas usinas, por mais que os responsáveis por elas insistam em dizer o contrário.

Ainda que uma usina não venha a vazar, não são seguros os depósitos de material rejeitado pelos reatores. E quando a usina for desativada, o lixo atômico perdurará por muitas e muitas décadas. Haja câncer!

No caso de Angra, se ocorrer algum acidente, não há como evacuar imediatamente a população da zona contaminada. A estrada é estreita, não há campo de pouso para aviões de grande porte e os navios demorariam para aportar nas proximidades.

Cada usina custa cerca de US$ 8 bilhões. O investimento não compensa, considerando que a energia nuclear representa apenas 3% do total de modalidades energéticas em operação no Brasil. Nosso país abriga 12% da água potável do planeta. Com tantos recursos hídricos e enorme potencial de energias solar e eólica, além de energias extraídas da biomassa, não se justifica o Brasil investir em reatores nucleares.

Na Itália, eles foram proibidos por plebiscito. A Suécia agora desativa suas usinas, e a Alemanha decidiu, em maio deste ano, fechar todas as suas usinas nucleares.

Usinas nucleares são como violinos Stradivarius. Antônio Stradivari (1648-1737), italiano, construiu os mais perfeitos violinos. Mais de mil unidades, das quais restam 650. Hoje, um Stradivarius vale, no mínimo, R$ 5 milhões. Um violino nunca é exatamente igual ao outro. As madeiras utilizadas possuem diferentes densidades, a radiação sonora e a vibração diferem e podem ser percebidas por um bom ouvido. Todos os Stradivarius foram feitos por artesãos que souberam guardar os segredos de sua fabricação.

Assim são as usinas nucleares. Não existe uma exatamente igual à outra. Não é previsível o que pode ocorrer no núcleo de uma delas se houver um acidente, incidente ou crise. Assim como se reconhece a qualidade de um violino pelo seu som, apenas por sinais externos se pode avaliar a gravidade de um vazamento nuclear, verificando a temperatura, a radiação e emissão de isótopos radioativos como iodo 131, césio 137, estrôncio 90 e plutônio 238.

Um detalhe da caixa de Pandora: só não escapou o único bem que se misturava aos males – a esperança. E a ela nos atemos neste momento em que, em todo o mundo, há mobilizações pela desativação de usinas nucleares. É hora de o povo brasileiro reagir, antes que se rompam as cordas do violino e as malditas mãos de Pandora venham a abrir de novo a caixa nuclear.


Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros.

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sábado, 25 de junho de 2011

A fome é uma criação humana

O Brasil está diante de uma oportunidade inédita: acabar com a fome e com a pobreza extrema, que atormentam milhões de famílias em praticamente toda a história do país. Mas para Selvino Heck, assessor extraordinário da Secretaria Geral da Presidência da República, é preciso mais. Não podemos conviver com os maiores índices de desigualdade social e econômica do mundo sem nos mobilizarmos num ato de cidadania para reverter esse quadro.



A fome é uma criação humana

Mundo Jovem: Por que existe fome no Brasil e no mundo?

Selvino Heck: Se olharmos esse momento histórico brasileiro e mundial, nós temos uma questão estrutural e uma questão conjuntural. Estamos numa crise econômica profunda, que começou em 2007 e, segundo os especialistas, deverá continuar talvez por uma década ainda. Isso tem levado ao aumento da fome no mundo. Todas as reflexões têm mostrado essa situação: a fome, que estava diminuindo (em torno de 800 milhões), hoje está atingindo cerca de um bilhão de pessoas. E cresce nos países mais pobres, especialmente na África e na Ásia, mas cresce também, por incrível que pareça, nos Estados Unidos e na Europa. Porque há uma crise que faz com que o crescimento econômico seja menor e que a concentração de renda e de riqueza esteja aumentando no mundo. Mas, pela primeira vez na história, essa crise não está acontecendo da mesma forma no Brasil e na América Latina e não está tendo também os mesmos efeitos.

Do ponto de vista estrutural, a fome é resultado do tipo de sociedade que temos: uma sociedade capitalista que concentra renda, exclui as pessoas, não permite que haja igualdade e uma melhor distribuição de renda. Então a razão estrutural é esta: uma sociedade que visa ao lucro, e o lucro acontece junto com o acúmulo de riqueza e de renda. Além disso, nós vivemos 20, 30 anos de neoliberalismo. O neoliberalismo significa: "Quem pode mais, chora menos”. Mas não se trata apenas da política econômica e social, é também uma política cultural, de valores, que influencia na maneira como as pessoas agem em relação umas às outras. Precisamos fazer um trabalho longo de reconstrução de valores de solidariedade.

Mundo Jovem: Então, a fome é uma situação criada pela organização humana?

Selvino Heck: O exemplo é o próprio Brasil, que sempre apresentou fome e miséria em grau acentuado e que na última década está diminuindo. Existem políticas sociais, governamentais, existe o programa Fome Zero e um conjunto de outras políticas que enfrentaram a fome. Já existe no Brasil, há uns 15, 20 anos uma forte presença de organizações sociais: toda a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, no início coordenada pelo saudoso Betinho.

Isso significa que, se a sociedade se mobiliza, se o governo tem políticas públicas para enfrentar a fome, ela diminui e pode até acabar. Se você olhar um país como Cuba, lá não existe fome há muito tempo, porque existem políticas de Estado que colocam como questão central o direito ao acesso das pessoas à alimentação. A fome não é natural. A fome depende das políticas sociais e econômicas.

Mundo Jovem: O que ainda persiste no Brasil é a desigualdade?

Selvino Heck: Nós temos no Brasil uma questão estrutural ao longo de séculos: sempre se produziu uma desigualdade econômica e social muito grande, e que continua. Vem diminuindo pouco. Márcio Pochmann, presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), afirma que 10% ainda concentram um percentual de 70% da riqueza nacional, sendo que os 90% mais pobres têm acesso a apenas 25% a 30% da renda nacional. Na opinião dele, se a gente considerar as famílias donas de conglomerados econômicos, cinco mil famílias detêm mais ou menos 45% da renda brasileira, o que é uma concentração absurda.

Em 2003, nós estávamos entre os quatro ou cinco piores países do mundo em distribuição de renda. Hoje estamos entre os 15, 20 países com a pior distribuição de renda do mundo. Ou seja, melhoramos bastante, mesmo assim a desigualdade ainda persiste.

No início dos anos 2000 tínhamos no Brasil em torno de 50 milhões de pessoas que, ou passavam fome diariamente, ou não tinham alimento suficiente regularmente. Hoje, diminuiu mais ou menos pela metade, mas temos ainda em torno de 16 milhões de pessoas que estão na extrema pobreza, e esse é um universo que se pretende atacar agora. No momento em que a presidenta Dilma propõe que um país rico é um país sem pobreza, isso significa enfrentar o tipo de desenvolvimento econômico, enfrentar a desigualdade na distribuição de renda, a desigualdade econômica e social. Dizer que num país rico não há pobreza significa também dizer que se alguém vai ganhar, outro vai ter que perder. É muito mais difícil, mas tão urgente quanto acabar com a fome é construir um país com mais igualdade social e econômica.

Mundo Jovem: E o desperdício de alimentos?

Selvino Heck: Há um desperdício de alimentos por falta de uma estrutura melhor para que o alimento chegue à população. E isso implica melhorar a infraestrutura no Brasil. Muitas vezes se produzem alimentos que não chegam até a população. Há problemas de transportes e outros que levam ao desperdício. Há também toda uma cultura, um modelo de desenvolvimento que, muitas vezes, começa na nossa casa, onde, ao sobrar comida, coloca-se no lixo. Mas há principalmente uma situação de desperdício em restaurantes, hotéis... É uma cultura, uma visão consumista de quem paga e se dá o direito de jogar as sobras no lixo.

Já foi criado um banco de alimentos para juntar restaurantes, hotéis, escolas, enfim, instituições em geral, para reutilização e redistribuição desses alimentos. Mas é fundamental também pensar numa escala de valores, em que cada um de nós deve se sentir responsável, solidário, consciente de que a comida que temos, e que até sobrou, outros não têm.

O Brasil não tem política de abastecimento. Perde-se trigo, arroz, mandioca etc. porque não há política de estoque. No Conselho Nacional de Segurança Alimentar, uma das coisas que estão sendo priorizadas é que os governos municipal, estadual e federal possam garantir isso: onde há alimento de sobra, ter onde estocar. Ou ter alimento estocado para regular preços, pois no Brasil, muitas vezes, a inflação acontece pela falta de um regulador de distribuição de alimentos.

Mundo Jovem: O que é preciso ser feito para equilibrar a alimentação?

Selvino Heck: Historicamente, o Estado brasileiro esteve a serviço de poucos. Nosso desafio é, entre outros, construir um Estado democrático, a serviço de todos. Hoje o Brasil é a sétima economia do mundo e, no entanto, existem 13 milhões de famílias precisando do Bolsa Família. É um país que tem agricultura, tem água, sol, clima favorável; pode plantar duas a três vezes na mesma terra durante um ano, coisa que quase nenhum outro país do mundo tem. Precisamos da parceria do governo, das igrejas, das organizações sociais, da juventude para, de forma coletiva, construir um novo modelo, uma nova proposta, com uma nova mentalidade e uma nova perspectiva de sociedade.

Mundo Jovem: E não se deveria investir mais nas crianças?

Selvino Heck: A meta do Plano Nacional de Educação é dobrar o investimento em educação, desde a creche (construir mais 6 mil creches no Brasil), a Educação Básica, o Ensino Médio, o Ensino Profissionalizante e até o Ensino Superior. Mas não é suficiente construir e dar acesso à escola, e sim observar também que tipo de ensino, como lida com a realidade das pessoas.

O mundo está numa encruzilhada. Temos que decidir que mundo, que tipo de desenvolvimento se deseja, como conciliar com as questões ambientais. E o Brasil está num outro tipo de encruzilhada: é uma das referências do mundo, está em crescimento econômico, mas que tipo de sociedade se deseja construir? Esse é um desafio. Queremos matar a fome de pão, mas não basta apenas matar a fome de pão, embora isso seja fundamental e prioritário. Junto com o matar a fome de pão, deve-se saciar a sede de beleza, cidadania, democracia... Essa consciência coletiva é fundamental para enfrentarmos a fome e a pobreza.

Mundo Jovem: Que ações sugere para os jovens?

Selvino Heck: Primeiro, é um desafio. Ninguém tem respostas prontas. A juventude de 20, 30 anos atrás não é a mesma de hoje, portanto as formas de organização necessariamente serão outras. Hoje, a comunicação da juventude é uma comunicação instantânea, e essas novas formas de linguagem são fundamentais no sentido de serem incorporadas no dia a dia, para um trabalho social que se queira fazer, ou num movimento de conscientização e organização da juventude.

A primeira coisa a fazer é partir da realidade atual da juventude, dos seus problemas, das suas inquietudes. Então, ou se acham novos caminhos, novas formas de linguagem ou a juventude não pensará num mundo onde a solidariedade é fundamental e o cuidado com o meio ambiente é decisivo.

Uma endemia que precisa ser enfrentada

No ano de 2000, a Organização das Nações Unidas lançou os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (Oito Jeitos de Mudar o Mundo - Nós podemos). A intenção é a reestruturação social a partir da superação dos entraves estruturais e da responsabilização do poder público e da sociedade quanto às suas responsabilidades para a promoção da vida em dignidade com os direitos assegurados. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) propõe: 1) Erradicar a extrema pobreza e a fome; 2) Atingir o ensino básico universal; 3) Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia da mulher; 4) Reduzir a mortalidade infantil; 5) Melhorar a saúde materna; 6) Combater a HIV/AIDS, a malária e outras doenças; 7) Garantir a sustentabilidade; 8) Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

Com esses Oito Jeitos de Mudar o Mundo, o PNUD alerta para problemáticas que assolam nossa sociedade continuadamente e que não podem mais ser remediadas, tendo que ser enfrentadas com políticas públicas eficazes para minimizar suas consequências. A erradicação da extrema pobreza e da fome - mui sabiamente enfocada como prioridade - deve ser tratada com maior responsabilidade, visto que a fome, segundo o escritor brasileiro Josué de Castro, deixou de ser apenas a simples falta de alimentação com implicações biológicas e fisiológicas, assumindo proporções contingenciais de forma contínua, passando de epidemia para endemia social.

A fome interliga-se direta e indiretamente ao analfabetismo, à desigualdade entre os sexos, à mortalidade infanto-juvenil, à gestação precoce e sem os devidos cuidados, à disseminação de doenças e à sustentabilidade. Um dos elos entre os países, membros ou não da ONU, deve ser a busca pela superação da extrema pobreza e da fome. Só assim os direitos humanos inerentes a cada cidadão podem ser garantidos. Ao sanar essa endemia, que se dê o primeiro passo para alcançar a totalidade dos objetivos subsequentes.

Josué de Castro dizia ainda que "a fome e a guerra não obedecem a qualquer lei natural, são criações humanas”. Isso nos remete à necessidade de reconhecermos nossas responsabilidades enquanto cidadãos, entidades governamentais e demais representações. Essa responsabilidade é conjunta na superação desse problema, muitas vezes banalizado e comercializado, visto que a fome é fruto de uma sociedade desigual.



Iara da Rocha Dantas,

Jaguarari, BA.

Endereço eletrônico: iara.rocha.sso@hotmail.com

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Crise não é só econômica, mas de humanidade

(*) J. B. Libanio

Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano

Matéria da Adital

A Assembleia Geral da ONU adotou a modalidade da Conferência dos Chefes de Estado das 192 nações que a compõem para discutir assuntos de suma gravidade. Na última no início de junho, ocupou o centro das preocupações a crise econômicamundial. Desencadeada pelos países ricos do Norte, tem produzido verdadeira devastação em países pobres. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) fala em mais de 50 milhões de desempregados em menos de um ano.

No início parecia uma marola. Agora levanta a cabeça tsunâmica. Já não se encontram soluções a partir unicamente dos interesses dos G-8 ou mesmo dos G-20. Toda a humanidade se vê envolvida.

A crise financeira mostrou a ponta do iceberg das crises de energia, de produção de alimentos, do aquecimento global, do desequilíbrio do consumo, da injusta distribuição de rendas e do acesso desigual aos bens.

No entanto, a maior delas, embora menos citada e menos palpável no bolso, acontece no nível de humanidade. Em que consiste tal crise e que sinais a denunciam? A humanidade nesse mais de milhão de anos, depois que descemos da árvore, ao deixar para trás a noite escura da pura animalidade pela luz da razão, tem mostrado avanço na descoberta das exigências da nossa condição humana. Não se percorreu uma trajetória retilínea em direção ao sonhado ponto ômega de Teilhard. Mas, grosso modo, avançamos em humanidade apesar de escuros momentos de barbárie em todas as idades. Mesmo no século XX, que despontava com enormes promessas ao ver o ser humano andando pelas entranhas da terra em Paris, conhecemos duas guerras mundiais, campos de concentração, gulags, indústria armamentista assassina.

A arte, a educação, milhares de manifestações de convivência humana semeiam de esperança a caminhada da humanidade. O socialismo tentou um sistema justo de distribuição de bens materiais, mas esqueceu o homem novo que se constrói na liberdade e na compreensão. Agora coube ao neoliberalismo mostrar sua extrema desumanidade. E ela está no centro da crise.

No Ocidente, habituamo-nos a creditar os erros à ignorância. A deusa Razão, que se impusera na modernidade, anunciava-se capaz de corrigir os erros, abrir as inteligências e gerar sociedadejusta e fraterna.

Esquecemo-nos, porém, de que o ser humano se move não só pela razão, mas por motivações às vezes monstruosas. Haja vista a atual crise de humanidade, visibilizada pelo aumento da violência das guerras externas e internas. E soma-se a elas a praga da droga a circular triunfante por todo o mundo, arrastando bilhões de dólares e jogando na escuridão do vício a flor da juventude.

Será que a reunião dos 192 chefes de Estado ultrapassará os horizontes fechados da crise financeira para perceber que está em jogo novo paradigma de existência para toda a humanidade?

[Autor, entre outros, de "Em busca de lucidez”; http://www.jblibanio.com.br/].



quinta-feira, 23 de junho de 2011

CORPUS CHRISTI - por um pedaço de pão

Ao celebrarmos a festa do Corpo de Deus, é preciso compreender muito profundamente o seu sigficado, em especial nos dias de hoje. Quando existe uma preocupação muito grande em garantir o "meu pão", nem que para isto eu precise "pisar nos outros", e ai, todo o significado e riqueza da festa do Corpo de Deus perde o sentido. Sua doação, sua partilha, sua entrega só tem sentido se lutarmos para conseguirmos o "pão para todos". Neste momento a música do Padre Zezinho tem muito a nos dizer.


"...Por não ter vinho nem pão, por lhe faltar a comida

Eu já vi mais de um irmão desiludido da vida
E por não dar do seu pão, e por não dar do seu vinho
Vi quem dizia ser crente, perder de repente os valores morais
Vi que o caminho da paz só se faz com justiça e direitos iguais.

Por um pedaço de pão e por um pouco de vinho
Eu já vi mais de um irmão tornar-se um homem mesquinho
Por um pedaço de pão e por um pouco de vinho
Vejo as nações em conflito e este mundo maldito por não partilhar
Vejo metade dos homens morrendo de fome, sem Deus e sem lar".



http://www.youtube.com/watch?v=b-N1b3CGowc

terça-feira, 21 de junho de 2011

TRF da 1ª Região liberta indígenas Tupinambá agredidos em ação da Polícia Federal na Bahia

21/06/2011 - 17:47 -  Site do Cimi


O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF) concedeu, ontem (20), liberdade aos indígenas do povo Tupinambá Estanislau Luiz Cunha e Nerivaldo Nascimento Silva, presos durante ação da Polícia Federal no Areal Aliança, em abril deste ano. O empreendimento, que explora areia no perímetro da área já identificada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) como sendo de ocupação tradicional do povo Tupinambá, está localizado em Olivença, distrito de Ilhéus (BA).

Durante a ação, Nerivaldo foi baleado na perna direita, um pouco abaixo do joelho. Dias depois, Nerivaldo teve a perna amputada. A Equipe do Cimi na região havia alertado da necessidade de atendimento específico a Nerivaldo, sob o risco de a amputação ser necessária, alguns dias antes do procedimento ter se tornado obrigatório. Já Estanislau, portador de epilepsia e, que consequentemente estar medicado em permanência, teve acompanhamento no presídio.

Os indígenas permaneceram presos no Presídio Ariston Cardoso, em Ilhéus, por dois meses e meio, onde receberam visitas dos membros do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (órgão da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República) e da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

A Terceira Turma do TRF da 1ª Região concedeu, à unanimidade, a ordem de “habeas corpus” para assegurar seu direito de aguardar a conclusão das investigações em liberdade, conforme pedido formulado pela Funai (HC 0027883-68.2011.4.01.0000).

PIADA OU REALIDADE?

Me passaram a história abaixo como uma piada, mas depois de ler e reflitir, fiquei numa tremenda dúvida, se isto não é um caso real? o que vocês acham?


ROUBAR OU NÃO ROUBAR?

Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e o levaram para a delegacia.

D - Delegado

L - Ladrão

D - Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha para ter o que comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!

L - Não era para mim não. Era para vender.

D - Pior, venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o comércio estabelecido. Sem-vergonha!

L - Mas eu vendia mais caro.

D - Mais caro?

L - Espalhei o boato de que as galinhas do galinheiro eram bichadas e as minhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.

D - Mas eram as mesmas galinhas, safado.

L - Os ovos das minhas eu pintava.

D - Que grande pilantra... (mas já havia um certo respeito no tom do delegado...)

D - Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...

L - Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus. Convidamos outros donos de galinheiros a entrar no nosso esquema. Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio..

D - E o que você faz com o lucro do seu negócio?

L - Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de drogas. Comprei alguns deputados e senadores do PT. Dois ou três ministros do PMDB, PDT, PSB. Consegui exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de alimentação do governo e superfaturo os preços.

O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada.

Depois perguntou:

D - Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não está milionário?

L - Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.

D - E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?

L - Às vezes. Sabe como é.

D - Não sei não, excelência. Me explique.

L - É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de uma coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como agora fui preso, finalmente vou para a cadeia. É uma experiência nova.

D - O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.
L - Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!

D - Sim. Mas primário, e com esses antecedentes...



Luis Fernando Veríssimo.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Belo Horizonte será sede da 30ª Assembleia do Conselho do Laicato do Brasil

O Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB) realiza, nesta semana, de 23 a 26, sua 30ª Assembleia anual, na Casa de Retiros São José, em Belo Horizonte (MG). Durante a Assembleia, os leigos vão discutir o tema “Os cristãos leigos e leigas, discípulos-missionários comprometidos com a vida”.

“Será uma assembleia avaliativa para discutir a competência do CNLB, tendo como base o estatuto do Conselho, a Carta de Princípios e as ações programadas no último encontro nacional do laicato, em 2007”, explica o presidente do CNLB, Laudelino Augusto dos Santos Azevedo.

Segundo Azevedo, a partir do tema, a Assembleia vai debater a vida no seu sentido amplo e não apenas na perspectiva ambiental. São esperadas 150 pessoas, vindas dos 17 Regionais da CNBB, incluindo representantes de movimentos religiosos (como Renovação Carismática Católica, Movimento Familiar Cristão, Cursilho de Cristandade), pastorais (da Juventude e da Terra, por exemplo) e associações leigas (Vicentinos, Apostolado da Oração, Legião de Maria, dentre outras), que são entidades filiadas ao CNLB.

Esta será a primeira assembleia coordenada por Azevedo, que assumiu a Presidência do Conselho no ano passado. “Minha expectativa [com a Assembleia] é conhecer ainda melhor o momento atual do CNLB através da avaliação e buscar novos caminhos de fidelidade à nossa vocação e missão de cristãos leigos”, comenta o presidente.

Ex-deputado estadual em Minas Gerais e atual vice-prefeito de Itajubá (MG), Azevedo aponta as “rápidas mudanças do mundo hoje” como um desafio que exige a atuação dos cristãos leigos “tanto na Igreja quanto na sociedade e na política”.

A Assembleia do CNLB contará com a presença do presidente da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB, dom Severino Clasen, bispo de Araçuaí (MG). A Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), a Comissão Nacional de Diáconos (CND), a Comissão Nacional de Presbíteros (CNP) e a Conferência Nacional dos Institutos Seculares (CNIS), convidadas, confirmaram presença no encontro.

Battisti um bode expiatório.

Em 29 de dezembro do ano passado, 48 horas antes de deixar a Presidência da República, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como um de seus últimos atos de governo, concedeu asilo político ao ex-ativista italiano Cesare Battisti, de quem a Itália pôs a cabeça a prêmio por envolvimento nas guerrilhas daquele país nos anos 1970.

Chegou-se àquele ponto após intensa campanha da grande imprensa brasileira para que o governo Lula cedesse às exigências, ameaças e insultos que a Itália vinha fazendo ao Brasil. Cada manchete que a “nossa” mídia publicava era no sentido de mostrar que estaríamos nos desmoralizando diante do resto do mundo ao não atendermos à cosmopolita Itália.

O governo italiano e autoridades do judiciário do país europeu, além da imprensa local, estavam do mesmo lado. Falavam do Brasil como país subdesenvolvido que contrariaria os seus interesses por deficiências não só de sua cultura, mas de seu povo. Na imprensa italiana não faltaram referências racistas ao nosso país.

Isso sem falar nas ameaças. Por conta da decisão de Lula, as autoridades italianas recorreriam à Corte Internacional de Haia, promoveriam retaliações em acordos militares, votariam sistematicamente contra o Brasil nos fóruns internacionais e proibiriam a todos nós de comer pizzas e lasanhas para todo o sempre.

Em uma execelente entrevista concedida a CARTA MAIOR, o ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, afirma que Battisti foi escolhido para ser um bode expiatório.

Na entrevista exclusiva à Carta Maior, o ex-ministro da Justiça do governo Lula e atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, faz uma avaliação sobre o desfecho e o significado do caso Battisti. Para Tarso, que concedeu refúgio político ao italiano, esse caso é "o maior exemplo de manipulação midiática que ocorreu no Brasil nos últimos tempos". O governador gaúcho também relaciona o caso à atual situação política na Itália e sustenta que Battisti acabou servindo de bode expiatório de uma aliança entre a extrema-direita italiana, a direita não democrática e a antiga esquerda italiana que "não só ficou isolada durante o reinado de Berlusconi, como também capitulou ideologicamente em questões de fundo".

Marco Aurélio Weissheimer

O ex-ministro da Justiça e atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), estava na Espanha quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, na semana passada, rejeitar a reivindicação da Itália contra a decisão do ex-presidente Lula, que se negou a extraditar o italiano Cesare Battisti. Como ministro da Justiça do governo Lula, Tarso Genro concedeu refúgio político a Battisti por entender, entre outras coisas, que ele era acusado de crimes de natureza política e que não existiam provas consistentes de que ele cometera os assassinatos dos quais é acusado. Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Tarso Genro faz uma avaliação do caso Battisti e dispara: "esse é o maior exemplo de manipulação midiática que ocorreu no Brasil nos últimos tempos".

O governador gaúcho também relaciona o caso à atual situação política na Itália e sustenta que Battisti acabou servindo de bode expiatório. "Battisti foi escolhido para ser um bode expiatório da extrema-direita italiana, da direita não democrática e dos partidos da antiga esquerda italiana que não só, ficaram isolados politicamente durante o reinado de Berlusconi, como também capitularam em termos ideológicos em questões de fundo".

"A grande síntese deste processo", acrescenta, "foi feita pelo ministro da Defesa da Itália que, olhando o Brasil como uma colônia, disse que nosso país era muito bom em bailarinas, mas não em juristas".


Carta Maior: Qual sua avaliação sobre o desfecho do caso Battisti?

Tarso Genro: Em primeiro lugar gostaria de salientar, como tenho feito de maneira reiterada, que o caso Battisti é o maior exemplo de manipulação midiática da informação que ocorreu no Brasil nos últimos tempos. Digo isso por vários motivos. Primeiro, porque jamais se informou que o Supremo Tribunal Federal já tinha tomado posição em caso semelhante, concedendo refúgio. Em segundo lugar, não se informou que o Supremo, por decisões que foram tomadas no curso do processo de deferimento do refúgio, tinha violado diretamente texto de lei. A lei que regula o refúgio no Brasil é expressa: quando é concedido o refúgio, interrompe-se o processo de extradição. Em terceiro, não se informou – pelo contrário, desinformou-se – que o conteúdo do processo não revela nenhuma prova contra Battisti. Não há nenhuma prova testemunhal e nenhuma prova pericial de algum assassinato que ele tenha cometido. Em quarto lugar, omitiu-se, também de maneira sistemática, que Battisti foi considerado refugiado político durante onze anos na França, um país maduro democraticamente e que tem um Estado de Direito respeitado em todo o mundo.

Portanto, a decisão que foi tomada pelo Supremo Tribunal Federal repõe três questões fundamentais. Em primeiro lugar, o elemento central da soberania do país para tomar decisões como esta. Em segundo, consagra a posição totalmente adequada à nossa Constituição, segundo a qual a última palavra sobre refúgio é do presidente da República. E, em terceiro, a mais importante delas, reconhece no Battisti uma pessoa que foi acusada de ser um criminoso político e não um criminoso comum. Assim, a decisão do Supremo merece ser respeitada e festejada. Isso não quer dizer que eu tenha qualquer reivindicação de saber jurídico para meu despacho (como ministro da Justiça) e nem que eu despreze os argumentos do ministro Pelluzzo e do ministro Gilmar Mendes, que tiveram uma posição diferente. Mas quer dizer sim que a maioria do Supremo esteve de acordo com o conteúdo do referido despacho e com a decisão do presidente da República.

Carta Maior: O governo italiano ameaçou remeter o caso para o Tribunal de Haia. Na sua avaliação, há alguma possibilidade dessa ameaça prosperar?

Tarso Genro: Trata-se mais de uma manobra política de um governo decadente que já está sendo derrotado nas eleições de seu país e nos referendos que ocorreram neste final de semana. É um governo composto pela centro-direita e pela extrema-direita mais atrasada na cultura política italiana e que tenta, na verdade, provocar contradições fora do país para tentar compensar seu desgaste interno. Portanto, isso não tem nenhum sentido e nenhum apoio na sistemática do direito internacional e não terá o respeito de nenhum jurista seja daqui, seja de fora do país.

Carta Maior: Houve uma coincidência entre a decisão do Supremo e as derrotas eleitorais do governo Berlusconi. O caso Battisti teve uma grande repercussão midiática na Itália e foi muito explorado politicamente pelo governo. Mas não parece ter ajudado muito Berlusconi. O que essas mudanças políticas que começam a emergir das urnas italianas sinalizam?

Tarso Genro: O Battisti, na verdade, foi escolhido para ser um bode expiatório da extrema-direita italiana, da direita italiana não democrática e dos partidos da antiga esquerda italiana que não só, ficaram isolados politicamente durante o reinado de Berlusconi, como também capitularam em termos ideológicos em questões de fundo da democracia italiana. Battisti serviu de elo entre um conjunto de facções políticas na Itália, apelando de maneira reiterada para questões reais que a Itália viveu naquela época, ou seja, desencadeamento de ações terroristas, de ações que culminaram com o assassinato do presidente Aldo Moro, e que tiveram um grande respaldo de estruturas subversivas secretas da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) naquela oportunidade. Essas forças não reagiram contra isso porque precisavam justificar-se perante a opinião pública e preferiram escolher uma pessoa para apresentar em sacrifício e tentar satisfazer uma merecida tensão, angústia e revolta de grande parte da sociedade italiana contra aqueles atos terroristas.

Isso foi feito de maneira articulada. O antigo reformismo italiano, que hoje virou um partido centrista conivente com o governo Berlusconi, apoiou essa campanha e não teve coragem de fazer um enfrentamento ideológico. Battisti foi escolhido a dedo para isso. Com a mudança política que ocorreu na França (derrota dos socialistas), ele perdeu a condição de refugiado e começou a aparecer como um elo de satisfação para purgar a terrível memória daqueles anos onde vários setores da extrema esquerda e também da extrema direita cometeram atos bárbaros. Só que a síntese eles tentaram fazer, através do caso Battisti, foi uma síntese para abater e atacar exclusivamente a esquerda, para desmoralizar tudo que restava de pensamento transformador na democracia italiana. Portanto, o uso de Battisti foi conveniente para a antiga esquerda italiana, para a direita autoritária e para a extrema-direita. A grande síntese deste processo foi feita pelo ministro da Defesa da Itália que, olhando o Brasil como uma colônia, disse que nosso país era muito bom em bailarinas, mas não em juristas.


Carta Maior: Considerando as derrotas recentes de Berlusconi e a desagregação da antiga esquerda, pode-se ver, no cenário político italiano o surgimento de novas forças políticas mais à esquerda?

Tarso Genro: Houve uma mudança significativa na política italiana nos últimos sessenta dias. Primeiro, cabe destacar a vitória de uma esquerda alternativa em Nápoles e em Milão. Segundo, uma vitória da oposição contra Berlusconi em assuntos extremamente importantes que ele submeteu a referendo. O grande problema para a continuidade desse processo de reabertura política na Itália é a ausência de propostas. O Partido Democrático italiano foi para o centro, não fez nenhuma disputa ideológica com Berlusconi e tratou a questão da integração da Itália à União Europeia apenas a partir de um critério de mais liberalismo ou menos liberalismo. Não apresentou nenhuma alternativa à forma de organização da economia, à forma da integração da Itália na Europa e não apresentou nenhuma resposta aos movimentos sociais fragmentados que foram surgindo de maneira acelerada.

Penso que precisaremos esperar ainda um pouco até que surja uma esquerda italiana que seja democrática, que não se submeta aos fetiches ideológicos promovidos pela grande mídia e pela extrema-direita e que tenha uma visão consistente de como integrar democraticamente a Itália na Europa. Acho que esse processo já começou, mas a oposição representada pelo Partido Democrático, que hoje é um partido centrista, não teve capacidade nem coragem política de apresentar uma proposta alternativa ao que significou o reinado de Berlusconi neste período.

Carta Maior: Se, na Itália, a direita está sendo derrotada, na Espanha e em Portugal, os partidos de direita obtiveram recentemente vitórias expressivas. Na França, há a possibilidade de que a extrema-direita dispute o segundo turno das eleições presidenciais. Por outro lado, na Espanha, na Grécia e em outros países, vemos grandes mobilizações de rua, reunindo fundamentalmente jovens que não são ligados a nenhum partido. Na sua avaliação, para onde este cenário aponta do ponto de vista político?

Tarso Genro: O processo de integração europeu é ambíguo. De uma parte, ele gerou condições para que os países se modernizassem em termos industriais e sociais, consolidando democracias estáveis. Essa foi a grande vantagem da integração europeia. Só que as negociações que levaram à essa integração não constituíram salvaguardas alternativas para estabelecer um verdadeiro equilíbrio entre a integração da Europa do capital e da Europa social. Hoje, a grande cobrança que é feita sobre esses países mais débeis economicamente é que eles se adequem ao processo de integração que é comandado pela Alemanha, pelo Banco Central europeu e agora pelo FMI. A integração europeia ainda é um processo em curso, que atravessará uma longa tormenta a partir de agora. E essa longa tormenta irá revelar a existência de movimentos sociais, de movimentos sindicais, de movimentos da intelectualidade que refletirão nos partidos democráticos formando alas de esquerda em suas fileiras, podendo, mais tarde, até dar origem a novas organizações.

Não creio que os partidos socialistas atuais tenham elaborado suficientemente uma estratégia para sair dessa armadilha em que eles se meteram, a armadilha do déficit máximo de 3%. Eles estão atados a uma concepção economicista da União Europeia, onde o equilíbrio financeiro se superpõe ao equilíbrio social. Não há um pacto de transição de médio ou de longo curso para que esses países permaneçam integrados na União Europeia e capazes de manter as instituições básicas de um Estado de Bem Estar. O que ocorre na Grécia, na Espanha, em Portugal e na periferia de Paris indica que teremos um período de perturbações sociais graves. Se a Europa “economicista” ceder é possível que se reajuste o pacto europeu. Se não, ele pode se fragmentar a partir de sucessivas rebeliões dos “de baixo”. É bom lembrar que, nestes países, não estamos falando de populações miseráveis, mas de trabalhadores que já provaram condições de bem estar e que dificilmente renunciarão a elas apenas pelo convencimento.

Carta Maior: Na sua opinião, esse receituário “economicista” dominante na Europa hoje pode desembarcar na América Latina e, em especial no Brasil, em caso de agravamento da crise econômica nos países do centro do capitalismo, especialmente nos Estados Unidos?

Tarso Genro: Creio que o Brasil tem condições especiais para enfrentar esse processo por alguns fatores naturais, como a possibilidade de expansão da fronteira agrícola, o relacionamento equilibrado com a América Latina por meio de políticas que o governo Lula desenvolveu estabelecendo relações de igualdade com países desiguais economicamente, e um mercado interno em expansão. Além disso, nosso país tem a capacidade de combinar um desenvolvimento industrial e técnico tradicional, com utilização intensiva de mão de obra, com um desenvolvimento tecnológico de alto nível, com capacidade competitiva no mercado global.

Estas condições retiram o Brasil da situação de um dilema trágico, de aderir ao neoliberalismo ou continuar crescendo com políticas sociais. Essa, na minha opinião, foi a grande conquista do governo Lula: fez uma transição sem ruptura, onde a ruptura era absolutamente impossível, colocando a questão do desenvolvimento como base para a criação de novos sujeitos sociais que não aceitam mais regredir, que querem mais, que pedirão mais para o Estado, mais escolas, mais educação, mais saúde. E isso só pode ser mantido com crescimento. Então, penso que o Brasil tem condições, sim, de sair desse impasse e, consequentemente, a América Latina também. Isso vai depender, obviamente, dos governos que tivermos daqui para frente. Se tivermos governos que sigam nesta trajetória iniciada pelo governo Lula e que está sendo prosseguida pela presidenta Dilma, acho que o Brasil não cai nesta armadilha e pode, em dez ou quinze anos, um país com muito mais influência que hoje no contexto mundial.

domingo, 19 de junho de 2011

Internet & direito à comunicação: Na pauta da igreja e da ONU

A Comissão Brasileira de Justiça e Paz veio a público manifestar seu compromisso com a comunicação como direito humano e reconhecer a urgência de um novo marco regulatório para o setor – inclusive apoiando a criação dos conselhos estaduais de comunicação, muitos já previstos nas Constituições estaduais.

Venício Lima (*)

Artigo publicado originalmente no Observatório da Imprensa

A Igreja Católica comemorou no domingo, 5 de junho, o 45º Dia Mundial das Comunicações (DMC). A celebração foi criada pelo Concílio Vaticano II e o 1º DMC aconteceu em 1967. O tema escolhido para 2011 foi  “A era digital”.



O documento divulgado pelo Vaticano, ainda em janeiro, para servir de base às reflexões sobre o DMC afirma:

“Hoje a profunda transformação operada no campo das comunicações guia o fluxo de grandes mudanças culturais e sociais. As novas tecnologias estão mudando não só o modo de comunicar, mas a própria comunicação em si mesma, podendo-se afirmar que estamos perante uma ampla transformação cultural. Com este modo de difundir informações e conhecimentos, está nascendo uma nova maneira de aprender e pensar, com oportunidades inéditas de estabelecer relações e de construir comunhão. (...) No mundo digital (...) a comunicação [pretende] ser não só uma troca de dados, mas também e cada vez mais uma partilha” (ver aqui o texto integral do documento).

Coincidentemente, um relatório do special rapporteur para a “promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e expressão” do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, tornado público no dia 3 de junho, reconhece o acesso à internet como um direito humano. Logo no Sumário de apresentação do documento está escrito:

“Este Relatório explora as principais tendências e desafios ao direito de todos os indivíduos de buscar, receber e divulgar informações e idéias de todos os tipos através da Internet. O special rapporteur destaca a natureza única e transformadora da internet não apenas para capacitar os indivíduos para exercer seu direito à liberdade de opinião e expressão, mas também uma série de outros direitos humanos e promover o progresso da sociedade como um todo.”

No item III, “Princípios gerais sobre o direito à liberdade de opinião e expressão na Internet”, o relatório afirma:

“Poucos, se algum, desenvolvimento nas tecnologias de informação tiveram tal efeito revolucionário como a criação da internet. Diferente de qualquer outro meio de comunicação (...) a internet representa um salto significativo no sentido de um meio interativo. Na verdade, [na internet] os indivíduos não são mais recipientes passivos, mas também ativos produtores de informação” 

O que há de novo?

Que a Igreja Católica considera a internet importante, não é novidade. Talvez o novo seja o reconhecimento formal das suas potencialidades de criar uma nova forma dialógica de comunicação compartilhada e as enormes conseqüências desse fato.

Da mesma forma, foi no âmbito das Nações Unidas, mais especificamente da Unesco, que surgiram as primeiras tentativas de se articular conceitualmente o direito à comunicação, ainda em 1969, até que ele foi reconhecido no famoso Relatório MacBride, em 1980. Segue-se um silêncio de duas décadas e a Unesco só volta a falar indiretamente no tema nos preparativos para a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação (Genebra, 2003 e Tunis, 2005). Depois disso, o direito à comunicação volta a desaparecer dos documentos oficiais.

A grande novidade, portanto, do relatório do special rapporteur é colocar novamente a comunicação como questão de direito humano, agora referido ao acesso dos indivíduos à internet.

CBJP/CNBB: ator histórico

E para completar, a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), divulgou, no último dia 10/6, uma importante nota sobre o direito à comunicação (íntegra abaixo).

A CBJP/CNBB, criada em 1967, “sempre lutou pela justiça social e teve papel exemplar na proteção dos perseguidos pela ditadura” e tem tido participação decisiva em episódios determinantes de nossa história política nos últimos anos. Dois exemplos: a Campanha das Diretas Já e o recente movimento conhecido como “Ficha Limpa”.

Ao vir agora a público manifestar seu compromisso com a comunicação como direito humano e reconhecer a urgência de um novo marco regulatório para o setor – inclusive apoiando a criação dos conselhos estaduais de comunicação, muitos já previstos nas Constituições estaduais – a CBJP/CNBB acolhe reivindicações que tem sido a principal bandeira dos movimentos sociais a favor da democratização das comunicações no Brasil.

Certamente essa nota não passará despercebida pelos atores tradicionais que formulam as políticas públicas do setor de comunicações no nosso país.

Será que agora realmente caminharemos no sentido de um marco regulatório para as comunicações e da positivação do direito à comunicação?

A ver.


**

Nota da Comissão Brasileira Justiça e Paz sobre o direito à comunicação

O tema da comunicação tem sido, nos últimos tempos, objeto de amplo debate e discussão na sociedade brasileira na perspectiva de assegurar a cada cidadão o amplo direito a uma comunicação livre, democrática e plural.

Ratificando seu compromisso na defesa da comunicação como Direito Humano, a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), soma-se às entidades e organizações que empunham a bandeira da democratização da comunicação em nosso país.

Esta meta só será alcançada mediante um novo Marco Regulatório, que responda plenamente ao previsto na Constituição Federal e à revolução da comunicação provocada pelas novas tecnologias. O Estado não pode se furtar a essa responsabilidade que lhe compete.

É urgente uma rigorosa observância de padrões éticos, estéticos e culturais no conteúdo veiculado pelos órgãos de comunicação, sobretudo, aqueles explorados pelo próprio Governo, assim como nas campanhas publicitárias financiadas com o dinheiro público, para que se diferenciem e sejam referência de qualidade na comunicação.

Para atingir este objetivo, é imprescindível ainda que haja:

** Condenação a qualquer tipo de censura prévia seja de caráter governamental, judicial ou empresarial;

** Explicitação do impedimento de agentes públicos terem concessões de radiodifusão;

** Imediata criação, nos estados e no Distrito Federal, dos conselhos de comunicação como forma democrática de ampliação da participação da sociedade na formulação e acompanhamento das políticas públicas regionais de comunicação.

Nesta fase do debate público, a CBJP declara seu apoio ao “Manifesto da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação”, divulgado em 19 de abril de 2011.

Brasília, 10 de junho de 2011.


Pedro Gontijo, Secretário Executivo
Comissão Brasileira Justiça e Paz, Organismo da CNBB


(*) Professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011.



sábado, 18 de junho de 2011

Unicamp publicará documentos da época da ditadura militar, preservados pela Igreja.

Mais de 700 processos judiciais da época da ditadura militar no Brasil (1964-1985), muitos dos quais com relatos de tortura em tribunais militares e outros abusos, serão publicados na Internet pela Universidade Estatal de Campinas, a Unicamp, em São Paulo (SP).

Os documentos chegaram no último dia 14 de junho, ao Brasil, enviados pelo Conselho Mundial das Igrejas, que os obteve de forma clandestina e os guardava nos Estados Unidos. Representantes da entidade entregaram a documentação ao procurador geral da República, Roberto Monteiro Gurgel Santos, em cerimônia na Procuradoria Regional da República da 3ª Região, em São Paulo.

A reprodução dos papeis começou por iniciativa da advogada Eny Raimundo Moreira e de seus colegas do escritório Sobral Pinto. Entre 1964 e 1979, eles fotocopiaram os autos do Superior Tribunal Militar, aproveitando que a lei permitia que os advogados consultassem os processos durante 24 horas. O objetivo era encontrar informações e evidências de violações aos direitos humanos praticadas por agentes da repressão militar.

Os advogados receberam apoio logístico e financeiro do então arcebispo de São Paulo, cardeal dom Paulo Evaristo Arns, e do reverendo presbiteriano, Jaime Wright, pois no período da ditadura, havia a preocupação com a apreensão do material por parte dos repressores políticos. Os documentos foram microfilmados e remetidos aos EUA.

Foram copiados 707 processos judiciais, que somam cerca de um milhão de cópias em papel e 543 rolos de microfilme. O material serviu de base para o livro "Brasil: Nunca Mais", publicado em julho de 1985, em meio ao processo de democratização do país.

O livro teve 20 reimpressões em seus dois primeiros anos e atualmente está em sua 31ª edição, de 2009.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Bombeiros, bom exemplo de mobilização

 Escrito por Wladimir Pomar


A luta dos bombeiros do Rio, que quase ninguém supunha possível, mas cujas condições salariais e de trabalho são vergonhosas para um estado que sediará os Jogos Mundiais Militares, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, é o primeiro bom exemplo de mobilização massiva, que se transformou de luta econômica em luta política. Com a particularidade de que se confrontou com um governo do qual fazem parte o PT e outros partidos de esquerda. A rigor, os bombeiros não reivindicavam qualquer exorbitância.


Pretendiam que seu salário passasse de míseros mil reais por mês para cerca de dois mil reais. Mesmo com um aumento de cem por cento, esse salário ainda continuaria sendo um dos mais baixos do país, em comparação com os de bombeiros de outros estados. Além disso, reivindicavam melhores condições de trabalho, com o fornecimento de equipamentos e proteções apropriadas ao desempenho de suas ações de risco.

A inabilidade com que essas reivindicações foram tratadas levou parte dos bombeiros em greve a invadir e ocupar, juntamente com seus familiares, o quartel-general da corporação. Mais uma vez, ao invés de negociar com os bombeiros e obter uma saída pacífica, o governo do estado decidiu utilizar a tropa de choque da polícia militar e qualificar os bombeiros de vândalos.

Com esse gesto, embora muita gente tenha considerado errada aquela invasão e ocupação, o governo fluminense conseguiu mobilizar o conjunto da população não a seu favor, mas a favor dos bombeiros.

Quanto mais pessoas tomavam conhecimento dos salários iníquos e das péssimas condições de trabalho daqueles profissionais, e mais firmes os bombeiros se mostravam na decisão de continuar a luta e a mobilização, maior se tornou a solidariedade popular a eles, inclusive no restante do país e no exterior.

Os partidos de esquerda também declararam sua solidariedade e seu apoio aos bombeiros e entraram em campo, tanto para restabelecer a negociação do governo com os grevistas quanto para obter a libertação dos 439 bombeiros presos e processados pela invasão e ocupação de um patrimônio público. À luta pelo atendimento das reivindicações econômicas somou-se a luta política pelo direito à luta, agora tendo a anistia como principal meta.

Esse bom exemplo de mobilização social não deve ser encarado como um fenômeno restrito aos bombeiros do Rio. O Brasil vive um momento delicado em que parcelas consideráveis da população, após oito anos de governos com forte participação da esquerda, emergiram com um poder aquisitivo maior, seja devido aos programas sociais de redistribuição de renda seja em virtude do crescimento do emprego.

Porém, esse processo não é equilibrado e dificilmente poderia sê-lo. O caso dos bombeiros do Rio mostra que há fortes desequilíbrios na redistribuição de renda e no acesso a poderes aquisitivos mais elevados, o que deve estar causando tensões em diferentes setores profissionais e sociais. Ainda mais que os governos fazem questão de propagar as vantagens de uma nova classe média emergente. Quem se acha excluído dessa emergência certamente pretende se incluir. E os bombeiros do Rio podem ser o exemplo que muitos procuravam.

Nesse sentido, governos com a participação da esquerda devem aprender com a lição do Rio e evitar os erros cometidos no tratamento da luta dos bombeiros. Não devem desprezar as reivindicações. E, em princípio, não devem utilizar tropas de choque para reprimir, mesmo ações desesperadas, antes de esgotar todas as possibilidades de negociação.

A esquerda, por seu turno, tem o dever de estar integrada nos processos de mobilização social por melhorias econômicas e maior liberdade política. A não ser que queira deixar que a direita se aproprie da mobilização social, menos para obter sucesso naquelas melhorias e mais para criar um fosso entre as reivindicações populares e democráticas e os governos com participação da esquerda. Nesse sentido, uma análise mais apropriada do bom exemplo de mobilização dos bombeiros pode lhe fornecer outras lições para as lutas futuras. Mesmo porque, se o exemplo for seguido, talvez tenhamos uma boa retomada das mobilizações sociais.


Wladimir Pomar é escritor e analista político



quinta-feira, 16 de junho de 2011

CÂMARA DE ITABUNA PASSARÁ DE 13 PARA 21 EM 2013

Os vereadores itabunenses "prestaram mais um grande serviço a comunidade" "depois de euxastivo trabalhos" votaram no limite para que o legislativo municipal pule de 13 para 21 cadeiras a partir de 2013. Esta ampliação no número de vereadores já era prevista desde 2009, quando o Congresso Nacional discutiu a emenda constitucional que ampliou em mais de 7 mil o número de vereadores no país.

Esta árdua tarefa dos "nobres" edis  quando definiram o aumento no número de representantes no legislativo itabunense a partir de 2013 ocorreu no dia 14 de junho. O eleitor vai às urnas em 2012 para escolher 21 e não mais 13 vereadores.

Ao invés de priorizarem seus compromissos com o povo que dizem representar e votarem em projetos que beneficiem a comunidade itabunense, os vereadores itabuneses prefiriram aumentar o numero daqueles que nada fazem, ao não ser, legislar em causa própria. 

Portanto, a partir de 2013, Itabuna, ou melhor, o povo vai dar de comer e regalias aos “faz nada da vida”.

E a cidade a cada dia perde a sua beleza! Sem saúde, transporte precário com passagem cara, falta de saneamento básico e ruas esburacadas, trânsito terrível, corrupção e mais corrupção... e a violência nem se fala.
 
Traduzindo para a linguagem do cais, teremos mais oito “come-e-dorme” em 2013.



MANIFESTO DA BANCADA INDÍGENA DA COMISSÃO NACIONAL DE POLÍTICA INDIGENISTA – CNPI


O Movimento Indígena decidiu romper relações com o Governo Federal. Indignados com o descaso e paralisia demonstrados pelo governo Dilma Rousseff diante dos graves problemas enfrentados pelos mais de 230 povos em todo país, os representantes do Movimento Indígena decidiram suspender a participação na Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI) até que eles sejam recebidos pela presidente e ministros.


Veja manifesto abaixo.....

SUSPENDEMOS A NOSSA PARTICIPAÇÃO ATÉ O GOVERNO DILMA ATENDER AS NOSSAS DEMANDAS

Nós, representantes indígenas na Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI, em protesto contra a omissão, o descaso e a morosidade do Governo da Presidente Dilma Roussef em garantir a proteção dos direitos dos nossos povos, suspendemos nesta data de início da 17ª. Reunião Ordinária a nossa participação na Comissão em razão dos seguintes acontecimentos:
1º. - Resoluções das quais participamos raramente foram encaminhadas, tornando-se sem efeito e resultado concreto.
2º.  Outras decisões de governo, como a reestruturação da Funai, foram encaminhadas sem o nosso consentimento, no entanto fomos acusados de ter sido co-responsáveis na sua aprovação e encaminhamento.

3º. Contrariando a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, que em seu artigo 6º estabelece que os governos deverão “consultar os povos interessados, mediante procedimentos apropriados e particularmente, por meio de suas instituições representativas, sempre que se tenha em vista medidas legislativas ou administrativas capazes de afetá-los diretamente”, e contrariando o próprio Decreto de criação da CNPI, o governo tem adotado medidas de flagrante violação aos nossos direitos.

O governo está determinado a construir empreendimentos que impactam ou impactarão direta ou indiretamente as nossas terras, o meio ambiente, a vida e cultura dos nossos povos, como a hidrelétrica de Belo Monte.

Nos últimos dias fomos surpreendidos por mais um ato antiindígena do Poder Executivo que publicou sem ter ouvido os nossos povos e organizações a Portaria Conjunta n° 951 de 19 de maio de 2011 que cria um grupo de estudo interministerial para elaborar ato que discipline a participação dos entes federados nos procedimentos de identificação e delimitação das terras indígenas.

Questionamos a finalidade proposta pela referida portaria cuja justificativa é atribuída à aplicação da “Condicionante nº 17 da decisão do Supremo Tribunal Federal na PET 3388”, referente à Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Não podemos entender a pressa do Governo brasileiro em se antecipar à conclusão do julgamento, sendo que o Supremo Tribunal Federal não concluiu este processo, a não ser para atender aos interesses de alguns governos estaduais, grupos econômicos e oligarquias políticas regionais declaradamente contrárias aos direitos dos povos indígenas.

Como representantes dos nossos povos na Comissão Nacional de Política Indigenista queremos tornar pública a nossa posição contrária a esta Portaria, razão pela qual exigimos a sua imediata revogação

4º. Enquanto espaço privilegiado de diálogo e interlocução com o governo para definir as políticas de interesse dos nossos povos a CNPI teve feitos importantes como as consultas regionais sobre as propostas para o novo Estatuto dos Povos Indígenas, a elaboração do Projeto de Lei do Conselho Nacional de Política Indigenista e a construção da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas (PNGATI). Porém, essas ações se tornaram até o momento sem efeito, uma vez que o governo não cumpre o compromisso de viabilizar a tramitação, aprovação e implementação desses instrumentos.

5º. A implementação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e a autonomia política, financeira e administrativa dos Distritos Sanitários Especiais Indíegnas (DSEIs) não está acontecendo.

6º. A reestruturação da FUNAI não sai do papel e os problemas nas comunidades continuam se agravando. As coordenações regionais e coordenações técnicas locais não estão funcionando, e o órgão indigenista paralizou as suas ações, notadamente a demarcação das terras indígenas, os processos de desintrusão e se comporta conivente do processo de criminalização de lideranças e comunidades indígenas.

7º. A educação escolar indígena diferenciada, direito conquistado na Constituição Federal e em Legislação específica, está sendo desrespeitada. O Ministério de Educação até o momento não implementou as decisões tomadas na Conferência Nacional de Educação Indígena e nem estruturou o setor correspondente para o cumprimento destas ações.

8º. A nossa participação na CNPI tornou-se sem sentido. Só voltaremos a esta Comissão quando a Presidente Dilma Roussef e seus ministros envolvidos com a questão indígena compareçam a esta instância dispostos a estabelecer um agenda de trabalho e metas concretas, explicitando qual é a política indigenista que irá adotar para o atendimento das demandas e reivindicações que reiteradamente temos apresentado ao governo neste âmbito ou por intermédio dos nossos povos e organizações representativas como aconteceu no último Acampamento Terra Livre realizado em Brasília no período de 02 a 05 de maio de 2011.

9º. Reiteramos o nosso repúdio à forma autoritária e a morosidade com que o governo Dilma está tratando os nossos direitos e reivindicamos respeito a nossa condição de cidadãos brasileiros e representantes de povos étnica e culturalmente diferenciados, com direitos assegurados pela Constituição Federal e por tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário. Como o fizemos até agora, manifestamos a nossa disposição de continuar lutando e contribuindo na construção das políticas voltadas nós, desde que estas atendam os reais interesses e aspirações dos nossos povos e comunidades.

Brasília - DF, 16 de junho de 2011.

BANCADA INDÍGENA DA CNPI

II BLOGPROG

O ex-presidente Lula confirmou presença no II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que começa amanhã (17) em Brasília.

Cerca de 400 ativistas digitais de 21 estados devem participar do II Encontro Nacional dos Blogueiros Progressistas (BlogProg), que ocorrerá de 17 a 19 de junho, no Centro de Convenções da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC), em Brasília.
A comissão nacional organizadora ainda corre atrás da infraestrutura básica para o evento. O objetivo é garantir alojamento, refeição e logística para 400 participantes. Acima deste número, os próprios inscritos arcarão com as despesas. Neste sentido, a comissão faz um apelo aos ativistas digitais e aos democratas de Brasília para que garantam “alojamentos solidários”.



Programação do II BlogProg:
Data: 17, 18 e 19 de junho.

Local: Centro de Convenção da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC)
SGAS. Avenida W-5, Quadra 902, Bloco C – Telefone: (61) 3214-8000

Dia 17 de junho, sexta-feira

17 horas – Início do credenciamento.
19 horas – Palestra do ministro Paulo Bernardo sobre os desafios da comunicação no governo Dilma Rousseff;

21 horas – Festa de confraternização.


Dia 18 de junho, sábado

9 horas – A luta por um novo marco regulatório da comunicação.
- Deputada Luiza Erundina – coordenadora da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão;
- Jurista Fábio Konder Comparato – autor da Ação de Omissão (ADO) do Congresso Nacional na regulamentação da comunicação;
- Professor Venício Lima – autor do livro recém-lançado “Regulação das comunicações”.

14 horas – Oficinas autogestionadas e simultâneas.

1- Os partidos e a luta pela democratização da comunicação.
- José Dirceu (PT), João Arruda (PMDB), Brizola Neto (PDT), Renato Rabelo (PCdoB), Randolfe Rodrigues (PSOL) – mediação: José Augusto Valente;

2- O sindicalismo na era da internet.
- Artur Henrique (CUT), Luis Carlos Mota (FS), Nivaldo Santana (CTB), Ricardo Patah (UGT), Ubiraci Dantas (CGTB) e Toninho (Diap) – mediação: Rita Casaro;

3- A política da internet, tecnologias e a neutralidade na rede.
- Sérgio Amadeu, Marcelo Branco, Ricardo Poppi, José Carlos Caribé, Tatiane Pires – mediação: Diego Casaes;

4- Arte, humor, militância e compromisso: agora por nós mesmos. Compartilhando experiências.
- Mediação: Paula Marcondes e Sérgio Telles;

5- Reforma agrária e as perspectivas na comunicação.
- Gilmar Mauro, Rodrigo Vianna, Letícia Silva, Sergio Sauer – mediação: Igor Felippe;

6- Mulheres na blogosfera.
- Luka da Rosa, Amanda Vieira, Mayara Melo – mediação: Niara de Oliveira;

7- Perseguição e censura contra a blogosfera.
- Paulo Henrique Amorim, Esmael Morais e Lino Bocchini – mediação: Altamiro Borges.

8- A militância digital e as redes sociais
- Eduardo Guimarães, Luis Carlos Azenha, Conceição Oliveira (Maria Frô) – mediação: Conceição Lemes.

9- Lan Houses e a internet na periferia.
- Mediação: Mario Brandão.

10- A outra economia da comunicação.
- Ladislau Dawbor, Marcio Pochmann, Clayton Mello – mediação: Renato Rovai.

• Oficina sobre ferramentas do blog – mesa: Marcos Lemos;


Dia 19 de junho, domingo

9 horas – reuniões em grupo: troca de experiência, balanço e desafios da blogosfera progressista;

14 horas – Plenária final: aprovação da carta dos blogueiros e constituição da nova comissão nacional organizadora.