quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A VIOLÊNCIA EM ITABUNA


*Egnaldo França

Há tempos que a cidade de Itabuna – BA vem sofrendo com um mal vivido pela maioria das grandes cidades brasileiras: a violência. Não sabemos se já chegamos ao “fundo do poço” (se é que esse poço tenha fundo), mas temos a certeza da ineficácia da Política de Segurança Pública e das demais políticas sociais atribuídas a esta população.
Nos idos do fim da década de 80 e início da década de 1990 o Bispo Dom Paulo Lopes de Farias, da Diocese de Itabuna, já denunciava o que ele chamou de grupo de extermínio, o qual vitimou grande parcela da juventude nas periferias desta cidade. Paralela à crise na lavoura cacaueira já sinalizava, nesta época, o “inchaço” das comunidades periféricas e o aumento da pobreza. Mais de 20 anos se passaram e a realidade destas localidades está cada vez pior. Na ultima terça feira, 24 de novembro, Ministério da Justiça e Fórum Brasileiro de Segurança Pública apresentaram uma pesquisa sobre a exposição de jovens à violência no Brasil e a cidade de Itabuna figura como a mais violenta do país.
Há tempos o Movimento Negro de Itabuna vem observando os dados da Secretaria de Segurança Pública da Bahia que já apontava esta cidade entre as mais violentas do Estado, com uma média de 15 assassinatos ao mês. O mais agravante é que as vítimas de homicídios dolosos, na maioria dos casos, são adolescentes, entre 14 e 16 anos, negros e como nas demais cidades, moradores da periferia e as “autoridades competentes” se mostram ineficientes e, de serta forma omissas diante das mazelas vividas pela população da periferia.
Neste mês de novembro o Coletivo de Entidades Negras de Itabuna promoveu uma série de debates, cujo tema central foi O JOVEM NEGRO NA PERIFERIA DOS IREITOS - “Discutindo Políticas de Segurança Pública”, a primeira atividade ocorreu na Câmara de Vereadores desta cidade, di 31 de outubro e foi convidado Poder Executivo Municipal e seus secretários, vereadores, o alto Comando das Polícias Militar e Civil, OAB, Diocese de Itabuna, Ministério Público, Universidade Estadual de Santa Cruz, DIREC-7, Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente, Imprensa; Entidades do Movimento Social e Movimento Negro de Itabuna e comunidade em geral - com o objetivo de discutir os rumos que tem tomado a violência neste município e como tem se configurada a política de proteção ou contenção e refletindo também as praticas de discriminação ao qual está submetida a população da periferia.
Desses convidados compareceu, apenas, o Tenente Carlos Araujo do 15º BPM, o Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente, representando a Secretaria Municipal de Educação o Diretor do setor de Relações Étnico - Raciais, Paulo Alves, setores da imprensa e os representantes dos movimentos. Os demais se furtaram de comparecer, o que prova a forma como o caso vem sido tratado nesta cidade. Durante o mês de novembro tivemos programação dia 13 no Ponto de Cultura - ACAI e no Auditório do Sindicato dos Comerciários, dia 17 no Auditório da Torre da UESC, dia 19 ao lado da Prefeitura (no monumento à Zumbi), e dia 20 na Av. do Cinqüentenário com a CAMINHADA DA CONSCIÊNCIA NEGRA e nenhum desses convidados (autoridades) compareceram. Foi alertado durante todo esse mês esta problemática, o que, de seta forma, foi ignorado, até que no fim do mês Itabuna é notícia em rede nacional como a cidade mais violenta do país.
A cidade em estaque está em perfeita sintonia com a conjuntura nacional, uma vez que o índice de evasão escolar nas Escolas do Estado beira o absurdo. Nas Escolas do Município chega a ser vergonhosa a situação da EJA – Educação de Jovens e Adultos. O Ministério Público que tem feito visitas a algumas dessas instituições escolares não está atento a situação do estudante noturno e também não tem se pronunciado em relação às verdadeiras chacinas que tem ocorrido em Itabuna.
Os jovens já se dizem tão “acostumados” a esta situação que assassinato, violência policial e outros descasos é uma realidade “comum” nas periferias...
Está mais que na hora dessas autoridades que se dizem competentes tomar uma atitude em caráter de URGÊNCIA! A população em geral precisa acordar para essa realidade, pois, se continuar como está, continuaremos ser notícia nacional nos piores índices que pudermos imaginar.

* Egnaldo Ferreira França
Projeto Encantarte
Graduando do Curso de História / UESC

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