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A
campanha “Eu Apoio a Causa Indígena!”, resultado de uma aliança entre o Cimi e
a Associação de Juízes para a Democracia (AJD), foi lançada na quarta-feira, 13 de junho,
no auditório Dom Helder Câmara da CNBB.
O
movimento disponibilizou um manifesto na internet com o intuito de colher o
maior número de assinaturas de pessoas favoráveis à causa indígena para
mobilizar os três poderes. Os escritores e intelectuais Eduardo Galeano,
Boaventura de Souza Santos e Frei Betto, além de atores como Wagner Moura e
Letícia Sabatella, disseram: “Eu Apoio a Causa Indígena! E você?”
“A
Associação dos Juízes para a Democracia (AJD) é constituída por juízes que não
se conformam com a lentidão do Judiciário brasileiro. Tivemos a oportunidade
junto com o Cimi de visitar os Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, e ficamos
bastante sensibilizados. Entendemos que como juízes precisávamos fazer alguma
ação”, afirma Dora Martins, integrante da
AJD.
Eis o relatório emocionante de Dora Martins depois
de sua visita aos Guarani Kaiowá:
Do amor e do ódio e do
índio.
Foi uma experiência de amor;
amor que nos remete a nós mesmos, e que nos alimenta com a possível esperança de
um mundo de diferentes que se mirem sem medo ou ódio.
Voltamos,
hoje, da viagem aos diferentes e humanos Guaranis Kaiowá, em Mato Grosso do Sul.
Viagem de fundo amoroso, sem dúvida, em que pese o amor doer com a dor do outro
e que isso nos remeta à nossa humanidade, tão singela, tão impotente por vezes.
O ódio aos Guaranis está em todo canto por aquele Estado tão cheio de verde da
cana e da soja e do dinheiro. E, com o encanto dos que lutam junto dos Guaranis
seguem a ameaça, a interdição, o assombro. Emocionante ver os indígenas nos
receberem com rituais e danças e celebrações.
Que se
espantem todos os espíritos do mal! Dançamos, pisamos na terra deles, com eles.
Ouvimos e fomos ouvidos. Foi emoção enrolada em emoção. Fizemos um minuto de
silêncio, em meio à mata verde, em círculo, no centro o local onde o Nisio Gomes
sangrou e sangrou. Crianças tão pequenas e nada temerosas, com abraços e risos e
danças também. Muitos líderes falaram, e "porque a justiça não se concretiza se
nós, indígenas, aceitamos a lei do branco"? E nós, juízes, ali, "veneno e
antídoto" a engolir em seco lágrimas insuspeitas. Conseguimos, estou certa, nos
fazer ver além e através da toga. E foi bom. E o líder Jorge bradou justiça com
a Constituição na mão, e as mulheres fizeram, na história, sua segunda ATY GUASU
(assembleia) para discutir o medo de não terem terra, alimento, saúde e
identidade. Mulheres indígenas com voz. Homens indígenas que querem voltar a
ocupar seu território sagrado e tão vilipendiado. E as atrocidades se repetem
compassadamente. Nos agradeceram os companheiros brancos, que lá nos receberam,
e nos presentearam com a fala de que, com toda certeza, nós, juízes brancos, ao
irmos até lá "fizemos história na história deles". Mais lágrimas e legítimas. E
foi tocante saber que eles acharam honroso e importante que juízas e um juiz que
lá estiveram se fizeram acompanhar por familiares, crianças e filhos.
E tudo ficou
tão familiar, tão igual, tão brasil profundo de brancos e índios... um alento,
para todos, e em especial para aqueles que lá, guerreiros bravios, lutam em prol
da causa Guarani; lá, em Mato Grosso do Sul, onde juízes decidem os processos de
uma perspectiva tão divorciada da terra e dos humanos valores indígenas, a ponto
de entenderem que quando a prova é apenas a "fala do índio", ainda que sejam
dezenas deles, alega-se "falta de prova" para por fim ao caso... Afinal, para
esse cego olhar da justiça de branco, palavra de índio não vale!
Dra. Dora Martins,
Juíza da Infância e
Juventude.
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